por Tais Martins
A celeste figura sentada na livraria.
Com seu caderno de histórias que nunca cessa de escrever...
Encapelada no seu vivo cadáver
Que se prolonga no mistério dos seus sonhos desolados.
Há na sua face uma fadiga amarga
Caracterizada pelas esperas inúteis...
Largas madrugadas de vigília e repleta de sombras ladinas,
Assim fitam seus olhos cercados de violação e mistério.
A sombra de sua face consome a luz dos seus olhos,
O arrepio de sua pele é uma derradeira lembrança das esperanças massacradas
E dos saltos para abismos delimitados entre as fendas do seu desregrado coração.
Rolam entre os seus cabelos os dedos que procuram pensamentos.
Oscila entre um riso fúnebre e as lágrimas não mais enfurecidas,
Tudo na sua face é derradeiro
Como se o tempo houvesse consumido partículas e venenos eternos...
Um corpo envolto em nuvem e pó que ao ser cruzado por um jato de luz
Morrerá derradeira e definitivamente.
Desejaria ela pálidas rosas de amor ou de perdão.
Almejaria ainda a colheita morta dos amores que insistiu em semear...
Suas mãos inquietas trazem as frias madrugadas.
O sangue não cessa na liderança heróica
De conduzir as memorias entre o coração e os neurônios.
Sua caneta delimitaria desejos de mulher intensa e aguda
Ou da virgem hostil devorada pelos seus medos...
O ódio e o amor transitam pelas almas putrefatas
Que nada desejam, mas que a tudo querem amealhar...
Há punições incapazes de superar os crimes cometidos.
Não emite perdão a boca pertencente à carne morta.
O jazigo do tempo só guarda os corpos, mas não os enterra...
A mulher que segura a xícara de café reina como uma deusa egoísta,
Resignada no silêncio angustiante das memórias eternas.
Impávida e fugidia se esquiva nas fotografias
Afinal a imagem pode revelar alguns sentimentos
E sua tenacidade está resguardada nas omissões...
Resta ela enamorada de seus enganos nem sempre sutis
Tudo nela segue irremediavelmente fúnebre.
O peito ainda estremece - como uma antiga inocência teimosa,
Mas segue ela desprendida das lembranças brutais
Eis que calaram as lágrimas e os lamentos
Resta em suas mãos um estado rarefeito e ideal
Deitada em profundíssimas raízes
Ela poderá florescer... Não hoje...
Mas quem sabe amanhã.
Poema selecionado no Concurso Literário Palavras de Veludo - Portugal.
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